O site GoldDerby participou da exibição, seguida de uma sessão de perguntas e respostas, de Cherry que aconteceu no último dia 8 de janeiro. Confira a seguir a tradução da matéria:
Em seu novo filme “Cherry”, Tom Holland se desvia da sua imagem como o doce e reconfortante Peter Parker dos “Vingadores” e do “Homem-Aranha”. O ator britânico de 24 anos fala palavrões, faz sexo, se casa, vai para a guerra, sofre de estresse pós-traumático, torna-se um viciado em heroína e opióides – arrastando junto sua esposa para dentro do terror – rouba bancos, é preso e, na prisão, encontra redenção. “Cherry” é baseado no aclamado romance de Nico Walker e foi inspirado em certos aspectos de sua vida. O filme é também uma verdadeira mudança de ares para os diretores Anthony e Joe Russo, mais conhecidos pelas suas grandes produções na Marvel, incluindo “Vingadores: Guerra Infinita”.
Cherry – Inocência Perdida é um original da Apple TV+. Será lançado dia 26 de fevereiro apenas nos cinemas dos Estados Unidos e mundialmente no dia 12 de março no serviço de streaming, chegando no finalzinho do período de considerações do Oscar. A Apple não poupou esforços para a exibição digital do filme e a conversa via Zoom, que ocorreram no dia 8 de janeiro. Ninguém menos do que Robert Downey Jr., o próprio Homem de Ferro, mediou a entrevista, que contou com os irmãos Russo, Tom Holland, Ciara Bravo (que interpreta a esposa de Cherry, Emily) e as roteiristas Angela Russo-Otstot e Jessica Goldberg.
Dizer que Downey estava entusiasmado a respeito de “Cherry” seria um eufemismo. “Uau! O que vocês acharam? Obrigado a todos os responsáveis por essa incrível experiência. Eu amei o filme”.
Joe Russo explicou que ele e seu irmão tiveram acesso ao livro antes de sua publicação em agosto de 2018 e que haviam sido avisados que iriam adorar a obra. Os irmãos são de Cleveland e a história de “Cherry”, coincidentemente, se passa lá. “Eu e Anthony lemos o livro sem saber o que esperar. Nós sabíamos que era sobre a crise dos opioides, mas não esperávamos o nível de autenticidade e verdade que encontramos no livro. Ficou muito claro que Nico Walker havia passado por uma experiência de vida muito complicada, ou um conjunto de experiências de vida”.
“Nós conhecemos vários familiares que estão lutando contra o vício e familiares que morreram por conta do vício”.
Joe Russo acrescentou que o livro os atingiu de uma maneira muito pessoal. “Cleveland e o centro-oeste industrial são de diversas formas o hipocentro da crise dos opioides”, apontou ele. “Existe um flagelo existencial que tem atingido essa parte do país nas últimas décadas e uma crescente sensação de trauma que tem se infiltrado lá. Nós conhecemos vários familiares que estão lutando contra o vício e familiares que morreram por conta do vício”.
Anthony Russo descreveu a obra como “difícil” e “provocadora”. Apesar de animados com a possibilidade de a transformarem em um filme, eles reconheciam que não tinham ideia de como fariam essa adaptação. “Como que a gente ia fazer pra contar uma história tão complicada no formato de um filme que as pessoas assistiriam?”.
Enquanto tentavam solucionar essa questão, Holland surgiu em suas mentes. “Quando pensamos nele, meio que tudo se encaixou”, falou Anthony. “Tom tem uma capacidade sem igual de criar empatia e interesse, de levar sentimentos positivos para uma situação tão complicada e para um personagem que faz escolhas muito árduas”.
“Eu senti certa responsabilidade de retratá-los e retratar suas experiências de vida da forma mais autêntica possível”.
Downey Jr. disse a Holland: “Tom, eu só queria falar que essa foi uma imensa transformação pra você, irmão. O que foi que te atraiu a esse papel e quão intimidante foi ele?”. Foi “muito intimidante” para Holland. Quando leu o roteiro, ele ficou deslumbrado com a possibilidade de interpretar um personagem tão desafiador, mas também percebeu rapidamente que “Cherry” contava a história de milhões de pessoas. “Isso está acontecendo com pessoas ao redor de todo o mundo. Consequentemente, eu compreendi a responsabilidade de dar o meu melhor e de me esforçar até o meu limite”.
Ele teve que mudar a sua aparência física, perder peso e trabalhar com maquiadores para captar a aparência certa de Cherry em seu declínio até as profundezas do vício em heroína. “Eu e a Ciara entrevistamos veteranos e pessoas sofrendo de dependência química”, contou. “Foi muito revelador. Eu aprendi muito a respeito de um tópico sobre o qual eu sabia tão pouco. Eu senti certa responsabilidade de retratá-los e retratar suas experiências de vida da forma mais autêntica possível”.
O ator não teve medo de pular de cabeça no papel, pois já havia trabalhado com os irmãos Russo no passado e sabia que os diretores estavam ao seu lado para “pegar os meus pedacinhos e me recompor se fosse preciso”. Havia também a sua química com Bravo. “Ter a Ciara como minha “parceira de crime” todo dia foi o maior presente desse processo”. “Eu também sou grata a você, só para constar”, complementou Bravo.
“Eu preciso muito ouvir de você, Ciara”, disse Downey. “Como você se familiarizou com o pior dessa realidade para ir a fundo com o sr. Holland nessa viagem insana?”. Assim como Holland, Bravo sentiu que tinha a responsabilidade de representar com veracidade a batalha contra o vício. “Eu não fiz pouco caso”, falou. “Foi um tópico sobre o qual eu conversei a fundo com os irmãos [Russo]. Consegui contatar um centro de reabilitação em Cleveland que fez a gentileza de me permitir uma visita. Só de ter a chance de conversar com os pacientes externos de lá e com vários dos funcionários que também passaram pelo programa, em especial uma enfermeira em particular que teve uma jornada espantosamente parecida com a da Emilly, já me permitiu encontrar vários detalhezinhos que deram à personagem a sensação de tridimensionalidade”. “Bom, e você conseguiu”, retrucou Downey, “Confie em mim, eu fiquei boquiaberto”.
“Precisávamos de algo que amarrasse tudo junto, e acabou sendo a história de amor”.
Antes de iniciarem a sua adaptação, as roteiristas foram a Cleveland para conhecer um pouco a metrópole de Ohio. “Nós meio que andamos pelo trajeto do livro”, disse Goldberg. “Então rapidamente decidimos que precisávamos de uma moldura, algo que amarrasse tudo junto, e acabou sendo a história de amor”.
Russo-Otstot acrescentou que elas estavam focadas em tentar “minerar” compaixão pelos personagens, “focando na história de amor e mantendo-a como um colete salva-vidas que ampara Cherry durante a sua jornada. Nós queríamos muito criar um personagem específico e com nuances, mas que não deixasse de ser acessível, como se ele pudesse ser qualquer um de nós”.
Downey ainda não tinha superado a performance de Holland. “Tipo, eu tenho que te dizer, T-Ho, tiveram uns momentos enquanto eu e a minha esposa assistíamos em que você está literalmente irreconhecível, diferente da pessoa que nós conhecemos”, falou. “Você manteve a minha imersão o filme inteiro”.