Ele quer ir para casa, mas não será agora. Não é sobre deixar Beverly Hills ou este hotel em particular e o café da manhã. “Este é o lugar mais relaxante que já fiz uma entrevista“, começou Tom Holland. Mas é algo em segundo plano: Tom Holland precisa voltar para sua casa em Londres, a propósito, ele diz que isso está começando a afetá-lo. A última vez que esteve em Londres foi para o funeral de seu avô e ele esteve lá apenas por um dia. Isso foi há 5 meses e desde então não parou de filmar. Uma menção casual do céu nublado nesta manhã de maio de 2019 em Los Angeles é suficiente para lembrar de Londres.
“Vou para casa em cinco dias. Estou desesperado para ver meus amigos, minha mãe, meu pai e meus irmãos e ser apenas um cara normal por algumas semanas“.
Ele acabou de fazer 23 anos e durante metade de sua vida ele não tem sido um “cara normal”. Certamente, ele nunca será. Durante três anos, Tom Holland vem interpretando o Homem-Aranha, uma franquia que em 6 filmes arrecadou 4,8 milhões de dólares em todo o mundo. O próximo filme está próximo, estreia em 2 de julho nos Estados Unidos, e será o sétimo filme do personagem e o segundo com o Tom Holland. Além disso, ele interpretou também o personagem em outros três filmes, sendo os dois últimos nos Vingadores. Holland é uma super estrela e tem uma idade onde a maioria dos atores ainda estão em uma escola de atuação tentando conseguir seus primeiros papéis.
Falando na versão normal dele, Tom Holland nasceu em 1 de junho de 1996 em uma família de classe média no leste de Londres. Ele foi uma criança que aos 5 e 6 anos de idade ficava em uma sala dançando Janet Jackson e cantando suas músicas. Devido a isso, sua mãe Nikki, decidiu matriculá-lo em uma escola de dança chamada “Nifty Feet”, em Wimbledon. “Eu acho que Tom sempre teve o potencial para ser uma super estrela”, disse a diretora da escola Lynne Page, em um e-mail. “Ele é um ator incrivelmente intuitivo e isso estava com ele desce o começo“.
A diretora colaborou com a coregrafia de Billy Elliot, um dos filmes mais populares nos anos 2000, que acabou virando um musical no West End. “Pareceu-me que o Tom tinha o físico, aparência e criatividade para fazer o teste para Billy“, contou Page. Holland foi assistir o espetáculo no teatro e ele percebeu que parecia impossível fazer isso. No entanto, ele ainda fez o teste. O juri viu algo nele, pois o contrataram e então o ensinaram a dançar por dois anos com os melhores professores do país. Ele tinha 12 anos quando fez sua estreia no palco, no papel do amigo do líder. Era 2008, a Marvel já havia feito três filmes do Homem-Aranha e ele [Tom] cresceu admirando os filmes e personagem.
Tom fez sua estreia nos cinemas aos 14 anos com o filme “O Impossível”, dirigido por Juan Antonio Bayona. Faziam algumas semanas desde que a turnê de “Billy Elliot” havia terminado, quando o diretor entrou em contato com ele depois de assistir a um vídeo no YouTube. “A reunião com o Bayona foi uma das mais importantes da minha carreira“, lembrou Tom. “Ele me colocou no mundo da improvisação, isso tem sido muito útil. Basicamente, nós revisamos o roteiro e ele disse: improvise, para ver o que acontece“.
Na audição, eles fizeram uma cena em que ele ajuda sua mãe a subir em uma árvore no meio do tsunami. “Eu não consegui me controlar, eu fiquei tão animado que comecei a chorar. Nós nos conectamos imediatamente. Lembro que Bayona me fez fazer mais 4 audições e quando ele me deu o papel ele já sabia que seria meu“.
O impossível foi um dos melhores filmes lançados em 2012. O rosto do Tom Holland chegou aos cinemas do mundo todo ao lado de Naomi Watts e Ewan McGregor. De repente, ele tinha ido dançar em um palco a vários metros de distância da platéia para uma câmera na frente do seu rosto e atuar de corpo e agir com os olhos. Ele retornou a Londres e fez um exame do ensino médio. Também fez um par de pequenos filmes, uma minissérie na televisão e teve um papel no filme “No Coração do Mar”, dirigido por Ron Howard. E de repente a vida de Hollywood parou. “Passei por uma fase que não tive nenhum trabalho. Fiz testes e mais testes e não consegui nada“, contou Tom.
Então, sua mãe resolveu fazer um “plano B: “ela me enviou para Cardiff para que eu pudesse aprender o ofício de carpinteiro, apenas para o caso da atuação não funcionar”. Não foi por capricho; a família de sua mãe tem muitas pessoas neste negócio. “Então eu sou um carpinteiro habilidoso, posso construir uma mesa, vitrine ou qualquer outra coisa. É muito útil“. Com 16 anos, ele teve uma carreira de dançarino, ator e carpinteiro. Quando ele era um cara normal teve que voltar para a escola. “Quando fiz isso, cresci. Fui para lá trabalhar, para me concentrar. Eu estava acostumado com o trabalho duro em um ambiente profissional“. Além disso, ele continuou treinando como dançarino durante os intervalos. “As crianças de 15 anos geralmente são idiotas, mas eu não era. Acho que foi por isso que eles me assediavam na escola, pois eu era diferente: era maduro.”
Holland não tem lembranças alegres dos últimos anos no colegial: “de 14 aos 17 anos foi difícil. Eles tinham tudo para mexerem comigo. Desde que eu fiz balé as pessoas achavam que eu era gay, então, se eu sou ou não gay o que isso importa? Para mim, o ballet era uma oportunidade de passar duas horas por dia em um estúdio com 30 garotas de meia-calça”. Tom ganhou seu próprio dinheiro trabalhando, tinha um rosto familiar na Broadway e fez alguns filmes. O genro de sonho de toda mãe e um objetivo fácil para os valentões. “Na escola eu era minúsculo. Sabe, eu continuo não sendo alto, mas eu era pequeno. Todos chegaram à puberdade quando estávamos na escola e eu sinto que comigo começou ano passado. Foi uma época em que eu estava com muita vergonha, da academia e dos chuveiros.”
De repente, ele voltou ao trabalho. Três filmes um após o outro. No meio, ele começou um longo processo para se tornar o novo Homem-Aranha. Primeiro, fez duas fitas de teste, depois mais duas e então uma audição em Los Angeles sendo o personagem, ao lado de diretores e Sarah Finn. E finalmente, um teste de tela com Robert Downey Jr. Outros 6 candidatos conseguiram chegar ao teste final. “Há sempre uma pessoa na minha carreira que encontro nas minhas audições onde eu acabo conseguindo o papel. Eles sempre estiveram lá, então logo eu já penso: não, meu Deus, lá vamos nós de novo.”
Eles explicaram que tínhamos que ler o roteiro exatamente como foi escrito. Tom queria improvisar e eles disseram: não você aprende as linhas da maneira que estão escritas. Você não pode brincar com uma franquia da Marvel e Sony. “Então, pela primeira vez na minha carreira eu tive que aprender algo. Quando cheguei no estúdio, comecei a cena com Robert e ele mudou a primeira linha. Fiz um rosto surpreso para trazer um momento de perplexidade… fiquei meio que: o que? Então fiz uma mudança também e quando notei já havia se passado 10 minutos de improvisos. Todos se divertiram“. Tom saiu de lá convencido de que tinha conseguido o papel. Eles disseram a ele para ficar esperando o resultado nos próximos 7 dias, mas então se passaram 6 semanas até que ele recebeu uma ligação e então era o novo Homem-Aranha no filme do “Capitão América: Guerra Civil”.
“Quando terminamos ‘Guerra Civil’ achei que iriam me demitir. Não sei porque… naquele ano e meio que aconteceu entre ‘Guerra Civil’ e ‘De Volta ao Lar’ eu pensei que eles realmente iriam me demitir. Era bom demais para ser verdade. Conseguir esse emprego era um sonho que se tornou realidade e eu não pude acreditar no que estava acontecendo. Só pensava que a qualquer momento iria voltar para à realidade e iriam tirar isso de mim. Graças a Deus não aconteceu“.
A nova franquia do Homem-Aranha se iniciou com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. “Se eles falarem que querem 10 filmes do Homem-Aranha, eu farei. Eu amo isso, eu posso continuar interpretando o personagem por muito tempo, desde que eles queiram. Ficarei feliz em carregar esse manto até que seja a hora de passar para um outro ator“.
Ao longo de sua jornada, ele conheceu Stan Lee, o criador desse universo, que faleceu em novembro passado. “Quando conheci Stan ele levou eu e meu melhor amigo para almoçar em um restaurante e nos contou sobre o começo e o fim da história do Homem-Aranha. Contou tudo. Foi incrível, nunca vou esquecer“. Stan Lee amava Holland no papel pois sua aparência jovem era o verdadeiro Homem-Aranha. Um garoto do ensino médio.
Tendo feito 23 anos no último sábado, 1 de junho, o britânico Tom Holland viveu a disciplina profissional e exigência física de dois anos fazendo um musical. Aprendeu a improvisar e chorar na frente das câmeras com Juan Bayona. Ele sabe o que é ser um ator desempregado e não conseguir ver seu futuro. Agora carrega a continuidade de uma franquia de bilhões de dólares, um trabalho com muita pressão e cercado de compromissos e negócios com a imprensa. E se tudo falhar, caso sua carreira for para baixo de um dia para o outro, ele poderá ser carpinteiro ou jogar golf. “É o meu vício.” contou Holland, e isso não irá te assustar caso você visite o Instagram do Tom com certa frequência. “Outro dia, quando o Tiger Woods venceu o Master chorei como se fosse minha mãe. O golf é o esporte da família Holland. Meu pai joga, meus avôs.. é algo que meu pai começou a me ensinar e eu gostei. Quando era pequeno não curtia muito, gostava mais de rugby e futebol. Mas quando comecei a viajar percebi que tudo que eu queria era um campo de golf. Em todos os filmes que já trabalhei sempre há alguém que joga.Também tem o fato de fazermos amigos nos bastidores com os outros atores e equipe. Inclusive, convenci o Jake Gyllenhaal a começar a fazer aulas de golf“.
Durante esses anos, sua família tem agido como uma âncora em sua vida, “tive momentos nestes últimos cinco anos que senti que estava me perdendo nessa indústria. É muito fácil deixar este mundo das celebridades te levar. Minha família fez um ótimo trabalho não deixando isso acontecer comigo. Manter meus pés no chão, ser o mesmo garoto de cinco anos atrás, mas só um pouco mais velho. Não há diferença no meu estilo de vida ou no que eu faço. Tenho sorte de ter irmãos e pais que me deixam de ferrar toda vez que eu sou um idiota. Nesta indústria é fácil ficar confuso e pensando que tudo que precisa é continuar trabalhando sem tirar uma folga. O que eu aprendi é que, se você trabalha muito, acaba sendo auto-destrutivo. Agora estou tentando ser mais seletivo em meus trabalhos, fazendo uma pausa quando termino um filme. Eles me ensinaram que você trabalha para viver e não trabalha para trabalhar.